A garota do Banco e a minha suposta velhice ou: "Muito velho para o Rock and Roll, muito jovem para morrer"!


Hoje pela manhã precisei ir à agência bancária.
Meu filho foi comigo. Passamos antes no barbeiro e de lá seguimos. Ele precisava também atualizar o número do seu Smartphone para poder movimentar sua Conta Universitário.
Na entrada do banco, antes de passarmos por aquela roleta detectora de metal, há uma máquina emissora de senhas de atendimento. Ali fica uma atendente operando a tal maquininha.
Imagino que deve existir pessoas com dificuldade no "relacionamento digital" (não falo aqui de sentimentos expostos via internet), pois a máquina é amigável, de operação fácil. É introduzir (com cuidado) o cartão e escolher as opções que vão aparecendo.
Mas, já que a moça estava lá, então não vou fazer desfeita e responder as perguntas dela.
- "Bom dia! Introduza na abertura por favor!", disse-me a simpática funcionária, referindo-se obviamente ao cartão do banco.
Fiz o que ela mandou e aguardei ansioso novas instruções que seguiria sem pestanejar.
- "O que o senhor está querendo?", inquiriu ela, com um sorriso de manhã de segunda-feira.
- Como assim?
- "O que o senhor veio fazer aqui?". Olhei para o lado, era comigo mesmo.
- Bem, necessito pensar pra te responder, mas adianto que preciso emitir um TED e conversar com o gerente de minha conta. Ou seja, atendimento no caixa e negocial.
- "Huummm... Então são duas senhas... Deixa eu ver o que faço...". Não tenha pressa em decidir, tenho o dia todo e está agradável esse tumulto aqui. Isso eu pensei mas não falei. Não deve ser fácil ficar ali atendendo o pessoal o dia todo. Devem aparecer muitos impertinentes. Permaneci portanto em "silencio obsequioso".
- "Vou tirar duas senhas, quem sabe dá a sorte de não ser chamado ao mesmo tempo nos dois locais". Era o que eu imaginava ser a melhor opção, parabéns pela sábia decisão! Também não falei isso. Permaneci santificadamente calado, murmurando apenas um "OK" e emitindo leve sorriso.
Ela imprimiu a primeira senha e pediu para introduzir outra vez (o cartão) na abertura indicada, para imprimir a segunda. No entanto, antes dessa complexa operação, ela me fez uma pergunta fatídica:
- "Atendimento preferencial?" Hein?! Esbocei um olhar de incredulidade, mas ela me olhava desafiadoramente, aguardando a resposta.
- "Atendimento prioritário senhor?" Será que ela se referia ao meu tipo de conta corrente? Sabe como é, os bancos atendem com mais atenção quem é detentor de contas mais importante$. Mas isso é detectado automaticamente pelo cartão, que contem todas as informações necessárias. Não era isso. Então só podia estar se referindo à legislação em vigor.
Nos milésimos de segundos que demorei para responder fui buscar no HD o que eram as tais prioridades, pois já tinha lido sobre elas: pessoas portadoras de deficiência, idosos com idade igual ou superior a 60 anos, gestantes, lactantes e às pessoas acompanhadas por crianças de colo. Até onde pude perceber, na quase totalidade dessas situações eu visivelmente não me enquadrava. Bem, uso óculos de grau elevado mas, para esses casos, a "deficiência visual" não se enquadra. Conclusão óbvia: ela queria saber se eu tinha mais de 60 (ou já estava achando que tinha).
Como assim, não perguntei eu. Estaria tão evidente uma idade avançada? Fale comigo moça! Por favor. Só tenho 58 anos, faltam dois séculos para chegar aos 60!
Só respondi "não" e agradeci. Também pelo fato dela não me chamar de tio, ou pior, vovô.
Já aguardando o atendimento, a primeira fila de cadeiras era reservada para os prioritários. Me sentei na segunda. Um bonito casal de velhinhos (ok, idosos), que pareciam estar acima dos 80, sentou-se na minha frente. Virei para meu filho: "Viu?! A atendente já estava querendo me colocar ali". Com um sorriso ele respondeu: "que nada, deve ser uma pergunta protocolar". Tá certo... Muito generoso esse filho.
É fato que não estou tão distante assim do que antes era chamado de terceira idade (nunca entendi esse termo, talvez sexagésima terceira seria mais adequado), e nem me preocupo muito com isso, mas é bom eu me acostumar com a ideia que não dá mais pra competir com a rapaziada da academia. Nossa geração determinou o fim do conceito de "velho" e dizem que a próxima vai chegar bem aos 120, no entanto não dá para ser infinitamente jovem: embora queiramos isso, tem sempre uma atendente de banco no meio do caminho... por mais que eu continue gostando de ouvir rock'n roll, como diria o pessoal da banda inglesa Jethro Tull!

Música: Jethro Tull - "Too Old To Rock'n'Roll Too Young To Die" - Legendado

Comentários

  1. KKKKKKKKKKKKK
    Amo seus textos. Não sei como consegue criar coisas tão boas de assuntos tão comuns.
    Beijos.

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  2. É amigo ... A gente vai descobrindo que aos poucos ou não ... estamos ficando velhos ... Final do ano que vem já posso entrar pela porta da frente nos ônibus... e espero estar com saúde pra isso ... O resto é rock and roll sempre ... ������������

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  3. É! Como diz uma amiga aqui do trabalho.
    O tempo iguala todo mundo!

    Falou isso depois que mostrei para ela uma foto atual, da mulher que o Eric Clapton foi apaixonado. " Laila"

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